Editorial

Planejamento sem lógica

Se antes da eleição já havia sinais de problemas orçamentários cujos impactos eram sentidos na administração pública, encerrado o período de disputa eleitoral, em que muitos dos problemas dos governos são empurrados para debaixo do tapete, pipocam em diferentes áreas as informações de que falta dinheiro para manter serviços funcionando.

Um exemplo é a situação das universidades públicas, acompanhada de perto pelo Diário Popular por conta da enorme relevância que possuem para o País e as comunidades em que estão inseridas. No caso da Zona Sul do Estado, as federais de Pelotas, Rio Grande e do Pampa, além do IFSul, são verdadeiros polos de conhecimento, inovação e prestação de serviço no contexto de uma região economicamente desfavorecida, cuja presença e atuação fortalecidas são essenciais na dura tarefa de reverter este cenário e desenvolver todo o potencial existente, social e econômico.

Mas a dificuldade vai além da educação. Na área da saúde, por exemplo, os bloqueios orçamentários federais se mostram prejudiciais à normalidade da distribuição de medicamentos para Aids, hepatite, câncer e até na Farmácia Popular. Pior: em meio a uma aceleração de casos de Covid e avanço de novas variantes, sabe-se que o Ministério da Saúde não possui programação para compra de vacinas a ponto de garantir eficiente imunização no ano que vem. E, ainda dentro da saúde, mas sob interferência dos contingenciamentos ao Ensino Superior, milhares de médicos residentes dos hospitais universitários correm o risco de não receber salários.

Ainda que haja importante grau de incompetência e interferência de escolhas políticas equivocadas por parte de quem faz a gestão, não há como deixar de atentar ao fato de que tudo isso ocorre mesmo com o Brasil obtendo importantes aumentos na arrecadação. Logo, dinheiro não deveria ser problema e cortes em áreas tão sensíveis deveriam ser o último recurso. Contudo, é preciso lembrar que a justificativa oficial costuma ser o famigerado teto de gastos, mecanismo adotado pelo País como suposta solução para a irresponsabilidade fiscal que, na prática, também impede de ampliar investimentos mesmo quando há mais dinheiro entrando no caixa. Ou seja, para muitos especialistas na área econômica e de gestão, o diagnóstico é que governos e parlamentares calcularam mal os reflexos do teto, fazendo com que seja hoje um entrave justamente no momento em que a sociedade está cheia de problemas a serem superados.

Nada que se possa chamar de surpreendente, já que o Brasil não cansa de dar mostras de que os governos pouco pensam no futuro, usando como única lógica o benefício político imediato. No fim, quem sente os efeitos, como agora, são estudantes, pesquisadores, professores, pacientes… Quase todo mundo.​

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